Exposição Villa Bella - Memória iconográfica de uma Bela Ilha (Ilhabela 1900-1980)
Uma travessia no tempo
Durante os últimos 10 anos, sonhei reunir fotografias antigas de Ilhabela que eu sabia estarem guardadas como tesouros sem mapas conhecidos. Recentemente fui tateando até os caminhos me levarem a alguns dos guardiões dessas preciosidades. Essas pessoas, de 60, 70, 80 e até 98 anos abriram-me generosamente suas casas, seus álbuns, suas caixas, suas vidas.
Embalados em suas memórias, revisitamos os engenhos em plena atividade, cruzamos o canal em canoa a remo e a pano, vimos o comércio com Santos florescer e, depois, minguar.
Embarcamos em lendárias canoas que transportavam de produtos a noivos, convidados e também mortos. Acordamos no meio da noite encantados com os foliões de Reis nas nossas portas e janelas.
E navegamos em procissões de São Pedro, e assistimos e nos envolvemos tanto com a Congada, que até escutamos o som da marimba.
Fomos prá lá e prá cá a pé e de bicicleta, desequilibrando-nos nos trechos por vezes arenosos das picadas entre as praias.
Caminhamos muitos quilômetros para chegar diariamente à escola. Puxamos picaré com os adultos. Ouvimos o som do berrante chamando-os ao mar quando a tainha entrava.
Jovens, nos juntamos com amigas e amigos no pontão da Vila para tocar e cantar e, às vezes, dançar. Esse nosso cotidiano foi parar até nas telas do cinema, quando chegou aqui, no final da década de 1940, a primeira produção da Cia Cinematográfica Vera Cruz, para o filme Caiçara.
Aos poucos fomos recebendo os primeiros imigrantes e também os primeiros veranistas. Vimos a arquitetura se transformando diante das novas demandas. Testemunhamos a chegada dos primeiros automóveis à ilha. E de muitos outros quando a balsa iniciou sua operação. Aí já estávamos batendo às portas da década de 1960.
Avançamos ainda pelos anos 1970 e continuamos pulando Carnaval e tingindo as águas do Canal ao final do Banho da Dorothéa.
Tantas lembranças e emoções nos levaram a essa viagem que as fotografias aqui revelam. Elas, que têm o poder mágico de atravessar o tempo, mesclando passado e futuro.
Todos os depoimentos mostraram um ponto comum: o amor a Ilhabela.
E é com esse olhar amoroso que lançamos à Villa Bella da Princesa-Vilabela-Formosa-Ilhabela desde o início do século passado, que chegamos ao dia a dia corrente, com certa nostalgia e a vontade confessa de ter realmente vivido aqueles tempos simples e libertos.
Seguimos viagem, carregados agora de uma visão mais ampla e de novos sentimentos que nos fazem entender melhor os dias atuais e lutar por um presente e um futuro dignos a esta terra e a seus habitantes, os originais e aqueles que um dia fizeram essa travessia guiados pelo coração.
Maristela Colucci
A mostra acontece de 1/12/2021 a 15/2/2022 na Fundação Arte e Cultura de Ilhabela (Fundaci), através da Lei Aldir Blanc e financiada pelo Fundo Municipal de Cultura do Município de Ilhabela.
